Uma estrangeira no mundo

"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

Teologia da Prosperidade x Prosperidade Cristã: algumas considerações


Após a publicação do artigo Até Jesus já alertava sobre a diabólica Teologia da Prosperidade recebi muitos comentários, alguns aprovando e outros me defenestrando. Até a acusação de ter pecado contra o Espírito Santo recebi, e para alguns eu estava pregando a Teologia da Miséria.

É preciso deixar bem claro que não é pecado ser próspero, ser rico, buscar crescimento profissional. O pecado está em colocar nosso coração no dinheiro. E como isso acontece? Quando eu sou uma pessoa rica, mas não reparto minha riqueza com os mais pobres. Essa lição está bem clara na passagem em que Jesus se encontra com o jovem rico:

“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?

Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.

Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.

Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá pois salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.

Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?

E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.” – Mateus 19:16-30

Vejamos. Jesus fez vários milagres. Em qual passagem dos Evangelhos vemos Jesus fazer o milagre da multiplicação das riquezas? Em nenhuma (se alguém achar tal passagem me escreva, para que eu me retrate). Porém, Jesus multiplicou poucos pães e peixes, segundo os relatos dos Evangelhos, e multiplicou também a quantidade de peixes pescada pelos apóstolos. Nessas passagens, nem que foi alimentado, nem os apóstolos ficaram ricos, apenas foram providos naquilo que precisavam de imediato: alimento para o corpo e sustento para sua família. Mas riqueza mesmo, Jesus não deu para ninguém.

Ao contrário, em várias passagens Jesus alerta sobre o perigo de se juntar riquezas. Alertou o jovem rico, e alertou o povo também:

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” – Mateus 6:19-21

Onde estiver o nosso tesouro, aí estará também nosso coração. O tesouro do jovem rico estava na terra, no acúmulo de riquezas, tanto que não conseguiu se desfazer delas em prol daqueles que sofrem. E esse é o tesouro ajuntado pelos que pregam a Teologia da Prosperidade.

Sob a justificativa de que somos “filhos do dono do ouro e da prata”, que somos “cabeça, e não cauda”, que se servimos a Deus temos o direito de “comer o melhor desta terra” (em interpretações isoladas de versículos direcionados ao povo de Israel nos tempos anteriores a vinda de Cristo), os teólogos dessa vã teologia ensinam o povo que, ao contrário do que Jesus disse, é nosso direito, e mais, é a marca de que estamos andando em obediência a Deus, o ajuntar as riquezas aqui na terra. Nas igrejas onde essa terrível teologia é pregada, o jovem rico congregaria feliz e saltitante. Já diante de Jesus, o jovem rico saiu triste e envergonhado, por não querer se converter de verdade.

E pior, para conseguir as tais riquezas materiais, o deus que é apresentado é mercenário, só ajuda se levar algo em troca. Nesse caso, para conseguir mil o fiel tem que dar dez, senão nada feito. O deus da Teologia da Prosperidade é movido a dinheiro, a negócios, muito se assemelhando aos lobbistas do Congresso, às empreiteiras que dão doações aos partidos políticos em época de eleição, para depois serem beneficiadas nas licitações de obras do governo.

Como já disse, e volto a repetir: é lícito crescer profissionalmente, abrir uma empresa, ganhar dinheiro de forma honesta. Mas para um verdadeiro cristão não é lícito viver no luxo, enquanto bilhões de pessoas vivem na extrema miséria. Juntar para si e não olhar para o outro não é atitude cristã, não é o que Jesus faria. E afinal, não temos que seguir e imitar a Jesus?

Meu marido Paulo Siqueira diz, em poucas palavras: “luxo e cristianismo são palavras antônimas”. E é verdade. Basta ver a vida de Jesus e de seus apóstolos.

Quando chamo a Teologia da Prosperidade de diabólica, é com muito temor e tremor de Deus. Ela é diabólica porque ensina exatamente o contrário do que Jesus ensinou. Ela é diabólica porque distorce princípios bíblicos, com o fim de agradar os fiéis, afinal quem não quer ser rico e poderoso nessa terra? Ela é diabólica porque vende o Messias que os judeus esperam até hoje: o rei em grande glória e poder, e não mostra que o Messias já veio, porém humilde, nascido numa manjedoura, e dele se diz que não tinha onde reclinar a cabeça.

“E, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei. E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.” – Mateus 8:19-20

E pasmem, muitos pastores da prosperidade só pregam se forem hospedados em hotéis 5 estrelas, e  com viagem de jatinho particular (1a. classe em avião comercial é coisa para gente menos próspera)!!!

Jesus nunca ensinou essas coisas, das quais a igreja brasileira está se enchendo. E está literalmente se enchendo de pseudo-convertidos, pois convertidos não a Deus e a Sua Justiça, não a Cristo, mas a promessas de bênçãos financeiras através da adoração ao deus que lhes é apresentado, e que é “xará” de Jesus Cristo. Lembremos de que o diabo tem poder nessa terra (até a volta de Jesus) para dar tudo de bom para quem ele bem quiser:

“Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.” – Mateus 4:8-9

E como já dito na Parábola do Semeador, uma semente que cai em espinhos é infrutífera, e infrutífera tem sido parte do Evangelho pregado no Brasil, graças à famigerada Teologia da Prosperidade.

Que tenhamos consciência de que a maior riqueza que Deus quer nos oferecer é a salvação através de Seu Filho. E a maior glória ocorrerá nos céus. Enquanto isso, aqui, na terra, sofreremos tribulações e críticas severas por ter a coragem de nos mantermos firmes no verdadeiro Evangelho. Que Deus possa nos fortalecer, para que não nos desviemos nem para a direita, nem para a esquerda.

Voltemos ao Evangelho

VOLTEMOS AO EVANGELHO PURO E SIMPLES,
O $HOW TEM QUE PARAR.

7 comentários em “Teologia da Prosperidade x Prosperidade Cristã: algumas considerações

  1. Welandro
    28/04/2012

    Creio que o desenho deveria colocar Apóstolo como sendo 65 milhões, pois a última moda é ser “apóstolo” (isso se eu não comentar que tens uns aí querendo ser “patriarcas” das nações. Misericórdia!

    Servo, quem quer ser?

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  2. Paulo Cezar
    30/04/2012

    Bom dia “Estrangeira”.
    Meu nome é Paulo Cezar, tenho 53 anos de idade e sou Ateu (cético).

    Já disse isso e repito…Fui religioso (Catolicismo e protestantismo), durante muitos anos de minha vida.
    Eu posso dizer que nas igrejas evangélicas, passei por lavagem cerebral.
    Quando passei a discordar e pesquisar, me tornei Ateu.

    Confesso que foi difícil para eu me libertar do sistema religioso, pois a mente está cheia de doutrinas e a libertação do sistema religioso, pelo menos comigo, foi lenta e gradual.

    O Ateu se baseia em evidencias, fatos concretos.
    ))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

    Mais uma vez quero dar os parabéns, pra você e seu marido.
    Nota-se que vocês, são evangélicos, que prezam pela ética e pela honestidade.
    Acredito eu, que a maioria dos evangélicos são honestos, mas infelizmente, são presas fáceis de pregadores(as) fanáticos e ambiciosos.
    ))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

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  3. Moacir Teles Maracci
    30/04/2012

    Essa reflexão da irmã Vera Siqueira é ainda de mais coragem do que a anterior, pois mexe principalmente no vespeiro gospel-midiático, os vendilhões da fé da era moderna. Incomoda principalmente os pregadores esclerosados que povoam a mídia televisiva, especialmente nos fins de semana. Para estes, eu, corroborando a irmã, reforço o desafio: mostrem-nos qualquer passagem em que Jesus faz o milagre da multiplicação das riquezas. Que Deus lhe abençoe, Vera e Paulo Siqueira.

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  4. Aline Pereira
    02/05/2012

    Minha irmã, acredite que demorei pra enxergar e ter esta visão espiritual que você tem.Nossa!!Foi um choque porque ficamos cegos espiritualmente e não queremos ver a verdade, esta realidade descrita sem mais nem menos que você postou. O que me deixa feliz é que muitos irmãos estão acordando e estão vendo esta triste realidade, já prevista na palavra do nosso Senhor. Jamais deixe de pregar, de postar a verdade porque você está fazendo a sua parte.grande abraço e o Senhor Jesus esteja sempre te auxiliando e te caminhando nas veredas direitas.

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  5. miriam vieira
    11/05/2012

    Ontem, eu estava pensado sobre este assunto e cheguei a conclusão,
    esse evangelho da prosperidade é como uma rede que vai e pesca os peixes para a religião, e após muito stressar presos na rede, os soltam ao mar de novo.
    ai o peixe tem uma imensa dificuldade de entrar em outra rede, mesmo que seja a rede verdeira de Cristo, pois foi muito machucado e frustrado por esse evangelho falso. é uma pena que existam pessoas que estão atrapalhando a propagaçao do verdadeiro evangelho que está no novo testamento.
    vale o conselho do ap. Paulo: Cuidado com os cães, cuidado com os falsos obreiros, cuidado com a mutilação.

    Paz.

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  6. jota araujo
    28/05/2012

    Bom dia (tarde ou noite) a todos os leitores.

    Sou cristão, membro da igreja batista há 31 anos. Sou pastor há 24 anos. Quero parabenizar à autora do artigo pelo posicionamento doutrinário correto e pela hermenêutica bem aplicada.

    Os cristão sérios de nosso país estão corados de vergonha pelo que tem acontecido com o que alguns chamam de “igreja” e de “evangelho”.

    A proliferação de novas denominações, a maioria resultante de toda sorte de motivações erradas. Em geral, pelo orgulho que faz nascer no ser humano toda sorte de sentimentos e desejos ruins. A partir deste ponto, vem o desafio de crescer, ser grande, não como resultado e com o foco centrado em ajudar pessoas, mas em alcançar prestígio pessoal. Penso que a teologia da prosperidade e suas presas são ferramentas nas mãos de pessoas que ambicionam prestígio e buscam alcançá-lo se valendo daquilo de mais puro que o homem possa conhecer – evangelho de Cristo.

    Portanto, seu espaço é de extrema necessidade e mensagens como esta precisam se multiplicar por todos os cantos deste país.

    Toda igreja, a exemplo de algumas denominações, precisa ter uma mecanismo de prestação de contas aos seus membros. O pastor, consciente da necessidade de uma conduta íntegra, precisa ser o primeiro a promover que haja transparência na administração das ofertas. Isto é benção e não um entrave para o pastor. Para os desinformados, a igreja, desde Jesus Cristo, viveu de ofertas. Jesus, inclusive, tinha um tesoureiro que, infelizmente, era Judas Iscariotes. Tal fato demonstra a realidade tanto da questão de ofertas e dinheiro na igreja, como também do perigo que este pode representar para algumas pessoas. Portanto, é biblico ofertar, dizimar, etc. entretanto, a forma como se promove estes ensinos e como se pede dinheiro, nestes seguimentos em foco (T. prosperidade) é, no mínimo, um abuso e uma deformação do ensino biblico.

    Encerro apelando a todos os irmãos em cristo, que estudem mais os ensinos biblicos escapando, assim, de serem presas de movimentos, doutrinas e líderes de má índole. Sei que existem muitos líderes cristãos sérios, muitas igrejas sérias, então, cabe a cada um escolher com discernimento. Não se deixem levar por estruturas maravilhosas, discursos inflamados, feitos espetaculares, pois, cada dia mais precisamos nos voltar aos ensinos biblicos e cuidar para que estas coisas não venham nos envolver e cegar nosso entendimento acerca do que seja a pedra fundamental do cristianismo – a doutrina biblica.

    Deus nos abençoe.

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  7. Concordo com tudo e ainda te convido para acessar o blog ( desviodaverdade.blogspot.com.br). E que Deus nos proteja.

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