Uma estrangeira no mundo

"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

Neopentecostalismo paradoxal: o que os metodistas querem com isso


Renê Terra Nova ungindo "apóstolos"

Renê Terra Nova ungindo “apóstolos”

Já há muito tempo o namoro entre pentecostais e metodistas é algo do conhecimento de muitos. A prova disso é a Igreja Metodista negra americana, que é uma referência em se tratando de um pentecostalismo verdadeiro.

Aos que não sabem, o metodismo é o ramo do protestantismo oriundo dos pensamentos e da teologia de John Wesley. Sendo assim, a teologia que rege os metodistas é a teologia wesleyana, fundamentada em suas bases essenciais: a salvação, a santificação e a piedade.

Ou seja, se alguém diz seguir a teologia wesleyana, é preciso que sua vida prática espelhe salvação, santificação e piedade.

A grande questão é que o pentecostalismo brasileiro não se fundamenta nesses princípios, pois o pentecostalismo brasileiro está fundamentado em duas bênçãos: salvação e batismo do Espírito Santo.

Então a pergunta que gostaria de fazer inicialmente: por que metodistas brasileiros se sentem tão influenciados por um pentecostalismo que se diferencia em muito da teologia wesleyana?

Essa pergunta fica mais complexa quando analisamos que muitas lideranças da Igreja Metodista brasileira estão se deixando levar pelo neopentecostalismo. Isso mesmo, o neopentecostalismo fundamentado nas doutrinas apostólicas, vindas de líderes como Renê Terra Nova, Estevan Hernandes, Neuza Itioka, Valnice Milhomens e sua turma!

Isso é facilmente visto em muitas igrejas metodistas, que aderiram à metodologia de células, encontros de poder, quebra de maldições, cura interior, cair na unção, cultos da arca, enfim, o pacote neopentecostal em um todo.

Fico admirado por algumas lideranças metodistas se sentirem atraídas pelo lixo doutrinário que nem mesmo alguns segmentos pentecostais aceitam em suas igrejas. Digo isso porque no meio pentecostal, apesar de raro, ainda existem líderes que não se deixam levar por modismos e métodos que só envaidecem, cegam e corroem a sã doutrina.

Lembro-me de uma viagem no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde vi uma faixa em frente a uma igreja metodista anunciando uma campanha de libertação e milagres. Na época achei estranho, mas deixei passar. Porém, com o tempo comecei a olhar mais de perto o que estava ocorrendo na Igreja Metodista.

Talvez você me pergunte: você é metodista?

Não, eu não sou um metodista. Porém meus estudos teológicos foram feitos na Faculdade Teológica da Igreja Metodista. Meus colegas de sala são hoje pastores e pastoras metodistas.

Ao observar que muitas igrejas aderiram à metodologia G12, me senti na obrigação de testemunhar minhas experiências com esse sistema. Fui pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular, uma das igrejas precursoras do sistema G12 no Brasil. Participei de todos os processos, porém o que vi não é nada agradável, pois vi a igreja que eu frequentava ser destruída, dividida, esfacelada, não só na igreja local mas também na igreja nacional.

Os maiores estragos estavam na deturpação da Palavra, na perda da identidade da igreja e na destruição do caráter puramente cristão, de que a igreja tinha e que deveria ter. Lamentavelmente, vejo que esses processos, de forma lenta, já estão acontecendo na Igreja Metodista.

Primeiro, porque algumas igrejas estão destituindo a Escola Bíblica Dominical. Muitas igrejas fundamentam as bases da teologia wesleyana em encontro e reencontros, sem contar que tudo se fundamenta na “visão”.

Triste engano.

Carregamento e adoração de réplica da arca da aliança em Igreja Metodista que agora tem "apóstolo"

Carregamento e adoração de réplica da arca da aliança em Igreja Metodista que agora tem “apóstolo”

Como podem lideranças metodistas trocar uma teologia fundamentada como a wesleyana pelos devaneios das doutrinas neopentecostais? Eu respondo com a experiência que tive ao indagar um colega de turma da Faculdade de Teologia, que nos dias acadêmicos era uma pessoa simples e humilde. Após um tempo de pastoreio, começou a publicar nas redes sociais suas viagens e seus gastos advindos de uma prosperidade fruto da teologia da prosperidade. Indaguei-lhe o que tudo isso tinha a ver com a Palavra de Deus e com a doutrina de Wesley. Ele me respondeu com outra pergunta: “que carro você tem? Você já foi para Israel?”

Está aí a resposta do porquê muitos líderes metodistas estão trocando a teologia wesleyana, fundamentada no Evangelho de Cristo, por doutrinas e modismos neopentecostais. O desejo é de poder, de lucro, enriquecimento.

Muitos pastores e pastoras não querem uma vida simples, mas querem desfrutar dos tesouros desta terra. Para isso, não vão poupar esforços para que as igrejas cresçam e lucrem cada dia mais.

Para isso, não medirão esforços, mesmo que isso custe a história e as essências de uma Igreja que faz parte da história do cristianismo no mundo.

Muitos metodistas já começaram a se levantar contra esse movimento nas redes sociais, principalmente pelo Facebook, na página Observatório Metodista, onde denúncias e debates acontecem todos os dias. Foi lá nessa página que vi a denúncia de que a Igreja Metodista já tem um “apóstolo ungido” por Renê Terra Nova. A igreja fica em Cabo Frio, no Rio de Janeiro.

Fico a me perguntar o que um pastor metodista tem a ouvir e a aprender com Renê Terra Nova, um esquizofrênico deturpador da Palavra de Deus.

Tristes dias. Só posso crer que o desvio da sã doutrina está cegando a muitos.

Lamentável. Mas os metodistas não estão sozinhos nessa batalha.

Certa vez perguntaram para Wesley: “o que é um metodista?”. Ele respondeu: “um metodista é um verdadeiro cristão”.

Sendo assim, acredito que estou lutando em vida para cumprir essa palavra, e não vou permitir que falsos cristãos deturpem a Palavra de Deus.

Em outro artigo que publiquei sobre a intervenção na Faculdade de Teologia, dei o título de “O povo do coração aquecido está esfriando“. Porém, diante de tudo o que tenho visto, sinto em afirmar que muitos metodistas estão querendo esfriar.

Graças a Deus que a Igreja Metodista tem muitos que ainda não se dobram para Baal e os deuses deste mundo. É por esses que vale a pena lutar.

Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!

15 comentários em “Neopentecostalismo paradoxal: o que os metodistas querem com isso

  1. Paulo Teixeira (um anglicano)
    16/07/2015

    A gente entende que igrejas cujos pastores frequentem cursos de teologia à distância e com quatro meses de duração cultuem a arca da aliança. Mas metodistas, que dispõem de universidades como a de Piracicaba e de grandes mestres em ciências bíblicas e teologia, dá pena ver…

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  2. Valdemar Trevenzoli
    16/07/2015

    Não é necessário extrapolar. Todo aquele que aceita e vive em Cristo sob o bafejo do Espírito Santo, é pentecostal no sentido exato da palavra tendo como modelo,
    Igreja Primitiva. Infelizmente estamos distantes da IP, não apenas 10 mil quilômetros, pois não pautamos nossa pró-atividade no quinteto doutrinário e missionário da IP: JEJUM E ORAÇÃO, COMUNHÃO, DOUTRINA, DISCIPLINA E culminando com MISSÕES E MINISTÉRIO QUERIGMÁTICO. A minha espiritualidade não é copiada, senão construída no meu relacionamento pessoal com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O pastor escrito, Valdir R. Steuernagel afirma que há muitos medalhões que se forjam na cultura teológica e filosófica e, alguns tornam-se Doutores em Divindade, mas não têm “pês formosos”.para adentrar numa favela, presídio a fim de proclamar as boas novas de salvação aos têm o hálito do inferno como Wesley, Tohohiko (Não se está certo), Livingstone, Stanley Jones, Rheinard Bonnke, com 4mi, 600 mil conversões na África. É preciso desmontar as fortalezas de satanás, alongar o espaço da tenda e demarcar os limites do Reino de Deus, Deus seja conosco!
    Pastor Valdemar Trevenzoli – 59 anos de ministério.

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  3. Rodrigo Magalhães
    16/07/2015

    É lamentável realmente que coisas assim estejam acontecendo.

    Sou membro de uma Igreja de tradição Metodista, em Porto Alegre/RS. Por aqui, ao menos na igreja que frequento, e nas demais, que eu saiba, ainda não há um apelo a este tipo de mudança de condução da denominação.

    Mas, tenho conhecimento destes fatos que relatas, e também sei que há muita gente por aqui sedenta pela chegada destes ventos por aqui…

    É incrível o que a falta de conhecimento, reflexão e de um cristianismo pleno fazem, e têm feito, com a igreja evangélica brasileira.

    Um dia cheguei a pensar que isto nunca atingiria a Metodista. Aos poucos, passei a ver membros se convertendo a este tipo de doutrinação. E agora, a instituição, que se calou quando era com os membros, se cala diante desta postura da liderança.

    Onde vamos parar…

    Ótimo texto!!

    Abraço!

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  4. Monique
    17/07/2015

    Realmente é triste ver pastores se vendendo aos prazeres desta terra, pensando apenas na gordura e na lã das ovelhas, ou seja, naquilo que podem ganhar e não nas vidas para as quais Deus tem um plano de salvação!!

    Contudo, não entendo o seu questionamento sobre a metodologia de células, encontros de poder, quebra de maldições, cura interior e cair na unção… Vou explicar meu ponto de vista sobre cada um desses pontos sob a luz da Palavra:
    -As células nada mais são do que reuniões nas casas assim como na Igreja Primitiva (Todos os dias, no templo e de casa em casa, não deixavam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo. Atos 5.42), de modo que a palavra possa ser ensinada de forma mais pessoal.
    -Encontros de poder não podem ser levado na brincadeira, contudo, são momentos de busca do revestimento, fortalecimento e enchimento do ES, assim como o fizeram os cristãos da IP (Atos 2).
    -Quebra de maldições se fazem necessárias a medida que vivemos em um mundo caótico no qual pais amaldiçoam seus filhos e pessoas se submetem ao jugo de Satanás. Jesus curava as pessoas não somente fisicamente, porém sentimentalmente, pois é um Deus pleno que atua no todo do ser humano! (“Ninguém, Senhor”, disse ela.
    Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado”. João 8.11)
    -Sobre cair na unção, posso trocar esse termo? Prefiro dizer cair COM A unção. Daniel não suportou a glória de uma manifestação de Deus (teofania), da mesma forma nós quando temos experiências com a presença de Deus, igualmente podemos não suportar e cair. (Enquanto ele falava comigo, eu, com o rosto em terra, perdi os sentidos. Então ele tocou em mim e me pôs em pé. Daniel 8.18. Então eu o ouvi falando e, ao ouvi-lo, caí prostrado, rosto em terra, e perdi os sentidos. Daniel 10.9.)

    No demais, concordo com você.

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  5. O que tem acontecido com a Igreja Metodista é trazido, como sempre, dos EUA; vejam como elas estão, aceitando o casamento gay entre outras aberrações; isto logo chegará aqui.

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  6. airotiv
    19/07/2015

    Gostei demais. Seu texto me representa. Me converti numa igreja neopentecostal e respeito pois pra quem está longe do Evangelho ser a matado por cura, milagres etc eh determinante para a decisão de aceitar a Cristo. Mas a partir daí vem a parte prática, ensinamentos de amor ao próximo, simplicidade, comportamento… essa comunidade de iguais achei na igreja Metodista, após orar por anos pra q Deus me apresentasse uma igreja pra congregar, pois onde me converti nada mais fazia sentido.
    Hj tb fico triste por ver certas práticas serem incentivadas, qdo o incentivo maior seria viver uma vida pacata, ajudando ao próximo e dando testemunho de cristão.
    Parabéns! !!

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  7. Jeff
    19/07/2015

    Desculpe o comentário em Inglês, mas meu português não é lá grande coisa.

    Your article is filled with assumptiona and trivial connections. First, the great mark of Wesleyan theology is grace. Grave that comes to us even before we are aware of God. Grace that woes us toward God. Grace that convict us of our sin. Grace that assures us of God’s forgiveness. Grace that guides us on that he way of perfection until we become like Christ.

    Wesleyanot theology by no means speaks against the pentencostal movement, because Wesley himself was transformed by the power of the Holy Spirit.

    I agree that there many branches of the Brazilian pentecostal movement that can be considered “pimps of the gospel,” that is they use the gospel to their own devices and not to further the mission of Christ. However, you make some dangerous connections in your article. Traveling abroad, driving a new car, living in a decent place is by no means a betrayal of one’s theological beliefs, unless they have taken vows of poverty. Many methodist pastors have careers outside the church, or have spouses with careers outside the church. So, displaying financial means by itself is no admission of culpability.

    Furthermore, while Sunday school is a tool of discipleship and learning, but it is not the only method. Many have found ways to fulfill that same goal with forma that work better for their communities. The abandonment of method is not in itself a casting off of the principles and examples of Wesley or Jesus. The Methodist movement was built on the foundation not of Sunday Schools, but discipliship classes and small groups. That is were Methodist around the globe have historically thrived the most.

    Bad theology is not limited to pentecostals. Bad theology and unfaithful practice of the gospel happens every were. Our role is to be faithful to the little we have been given and not become so self-righteous to think that we are immune to the same temptations.

    In Christ, Jeff

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  8. Jacob Lima
    24/07/2015

    A igreja vivendo das sombras, das figuras, da representação, da teatralidade, da coreografia de avivamento, ignorando que tudo isto representa rejeição de tudo o que Jesus ensinou! Enquanto isto, no mundo real, este agoniza aguardando com ardente expectativa a manifestação dos filhos de Deus! São tão poucos que não faz verão!

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  9. telmo flores
    15/09/2015

    Como é o nome da pessoa que escreveu este texto?

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    • Estrangeira
      15/09/2015

      Paulo Siqueira e Vera Siqueira

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  10. Neidí
    15/09/2015

    Quem escreveu? Assino em baixo.A bênção e o Espírito Santo não são comercializáveis.

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  11. telmo flores
    13/10/2015

    Perguntei porque achei ótimo. Eu sou pentecostal, creio e vivo dons do Espírito Santo, mas além de dons, estou mais preocupado com os frutos. Frutos estes que esta turma citada no texto não tem, nem se preocupa. Realmente o que eles buscam é “o carro do ano, a viagem a Israel” de onde trazem todo tipo de quinquilharia para praticarem misticismo nas igrejas. Não podemos, entretanto, misturar manifestações do Espírito com o que essa gente tá fazendo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Concordo que temos que voltar ao verdadeiro evangelho, mas este não valida o cessacionismo que é outra discussão, apesar destes vendilhões tentarem imitar a obra do Espírito. O que a Bíblia nos diz é exatamente o que devemos fazer, olhar os frutos. Bênção sobre nós e cuidemos pra não perder a coroa da vida nestes tempos nebulosos.

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  12. Raphael Basoni
    04/06/2017

    Não vamos generalizar as coisas. A IMW não aderiu o G12 e nem nunca o fará. Tal visão vai contra o estatuto da igrega e nunca passaria num concílio. Não existe “apostolo” na nossa ordem ministerial que consiste de bispos, ministros, pastores e missionarios. Qualquer igreja que apóie tal “modice” pode e deve ser reportada aos bispos do Distrito.

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  13. Andréia Machado dos Santos Ferreira
    20/06/2017

    Concordo plenamente…as idéias neopentecostais estão se instalando ora sutilmente ora devastadoramente nas igrejas que estão se tornando mais tolerantes às interpretações místicas e pessoais da palavra de Deus, o problema é que alguns falsos convertidos querem ser bem sucedidos às custas de Deus, seja pregando, cantando ou pastoreando, e a teologia da prosperidade e as manifestações de poder satisfazem o ego destes lobos que acabam sendo idolatrados…os que se dizem Cristãos estão aplaudindo de pé…Cristo está sendo trocado por cantoras super famosas, pregadores inúteis e hereges e pastores que buscam sucesso, satisfação e um bom salário com o ministério.
    Não se busca mais os frutos e sim extase espiritual.

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