Uma estrangeira no mundo

"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

Esfriando o amor de muitos: técnicas midiáticas e eclesiásticas para dessensibilizar o ser humano


0001“E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane;
Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.
E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.” – Mateus 24:3-13

Apesar dos avanços tecnológicos e do conhecimento, vemos o ser humano cada dia mais animalizado. São guerras, genocídios, assassinatos, torturas, estupros, roubos. Basta ligar nos telejornais ou acessar a internet para se ter acesso às mais escabrosas notícias envolvendo o sofrimento humano, sendo possível, nesses tempos, até ver e ouvir os atos de crueldade.

Mas, ao invés desses fatos e cenas servirem para trazer revolta e indignação a ponto de se lutar por mudanças, apenas traz um pesar instantâneo e, logo depois, a preocupação com o que realmente nos interessa: o Eu e aqueles que são do nosso interesse.

E como pode ser tudo isso?

Somos o tempo todo manipulados para sofrer o menos possível, e assim nos adequar ao sistema deste mundo tenebroso. Os programas jornalísticos, por exemplo, utilizam-se de uma técnica muito simples para dessensibilizar a população: intercalam notícias ruins como notícias leves e divertidas. Duvida? Preste atenção ao próximo noticioso que assistir e verifique por si só.

Essa intercalação de notícias tem um propósito: desanuviar nossas mentes através da confusão de sentimentos. Por instantes, ficamos tristes com a notícia do massacre de pessoas. Logo depois, uma notícia leve, sobre como as crianças vêem o Papai Noel. Em seguida, notícias de corrupção no Brasil. E então, uma reportagem sobre a beleza das praias do Nordeste. Assim, mal temos tempo para absorver o massacre e já nos encantamos com a fofura das crianças. E mal absorvemos o excesso de fofura, e nos vem a avalanche de corruptos. Porém, antes que tenhamos tempo para esboçar nossa revolta, lá vem o refrigério da brisa do mar!

0002Além disso, a grande profusão de notícias ruins nos faz inconscientemente supor que é assim mesmo, paciência, não tem jeito, que Deus nos proteja e o resto que se lixe.

E assim, somos doutrinados a receber toda a sorte de notícias, boas ou más, sem que elas venham a causar algum efeito maior em nosso ser. Se a notícia ruim for impactante, a mídia a martelará por alguns dias, apenas o suficiente para lucrar com ela, e logo mais a colocará no esquecimento. Ou alguém se lembra que, num passado recente, uma menina foi supostamente estuprada por mais de 30 homens, ou que jovens de classe média botaram fogo em um índio, ou que houve um terremoto no Haiti que destruiu o país e milhares de vidas?

Agora, com certeza nós nos lembramos (porque acabamos de ler sobre o assunto). Mas e qual o sentimento que nos toca agora, diante dessas lembranças?

Entende, na prática, como estamos nos dessensibilizando a cada dia? Como o sistema asqueroso deste mundo nos torna seres sem coração? Entende por que deixamos de ajudar a “esses vagabundos que estão nas ruas”, por que culpamos a mulher vítima de estupro (quem mandou andar de saia justa?), por que não nos indignamos com a morte de crianças por desnutrição nos rincões do Nordeste ou em países da África, por que achamos que “bandido bom é bandido morto”?

Recomendo a leitura do artigo As dez técnicas mais usadas pela grande mídia para manipular a realidade, que compila alguns ensinos de Noam Chomsky sobre o assunto.

Se fosse só o mundo que fizesse isso, ainda vai. Afinal, o mundo jaz no maligno. Mas, como explicar igrejas agindo de forma semelhante?

milagre-charge-evangelico-em-4-fasesQuando igrejas falsificam milagres, está dessensibilizando os fiéis. O uso indiscriminado de técnicas de hipnose, indução coletiva e truques de mágica tem criado uma multidão de falsos milagres e falsos testemunhos. O (im)pastor manipula a mente e a emoção do povo, além de usar da falácia de que milagre não testemunhado na hora pode ser roubado pelo diabo. O fiel, desesperado por uma palavra divina, aceita a indução e realmente se acha curado. E sobe na mesma hora no púlpito para dar o testemunho do milagre. Porém, um testemunho de boca, de emoção, sem atestados médicos, sem comprovação científica.

Pelo menos uma coisa essas igrejas precisam aprender com a Igreja Católica: não considerar qualquer testemunho como milagre. Os católicos são extremamente sérios nesse quesito, pois para um evento ser considerado milagre necessita ser avalizado por uma série de médicos e cientistas. Já em muitas igrejas ditas evangélicas, tudo vira milagre, pois serve de propaganda da eficácia da denominação e da santidade dos seus (im)pastores.

Se em certas igrejas evangélicas houvesse mesmo tantos milagres, por que não há ainda um avivamento? Pois os milagres verdadeiros sempre avivaram ao seu redor, a começar da Igreja Primitiva. Ao invés de avivamento, o que vemos é um êxodo entre essas igrejas que propagandeiam curas e milagres: o fiel começa na IURD, depois não consegue o milagre e vai para a Internacional da Graça de Deus, insatisfeito vê a propaganda da Mundial e para lá se desloca e frustrado, mas ainda com um tiquinho de fé, tenta a Plenitude do Trono de Deus, a igreja da moda dos milagres. E acabará muito provavelmente descrente, a não ser que no caminho encontre-se verdadeiramente com Jesus Cristo, Aquele que certas igrejas insistem em esconder, pois Seus ensinos prejudicariam seus negócios em nome do Sagrado.

0003Além de nos dessensibilizar em relação aos milagres, certas igrejas também nos dessensibilizam em relação ao amor ao próximo. Nessas igrejas, aprendemos a dar nosso melhor não em socorro aos necessitados, mas em favor da catedral faraônica gospel. A oferta, essa é desviada das viúvas, órfãos, estrangeiros, irmãos próximos, necessitados, desempregados, para a compra de tijolos, ar condicionado, revestimentos, cadeiras confortáveis para os fiéis e carros, jatinhos, haras, fazendas, mansões para o bem-estar dos (im)pastores. Mesmo vendo que os recursos depositados nessas igrejas não são distribuídos conforme os ensinos bíblicos, ainda assim continuamos a investir nesses ministérios, pois nossa intenção não é obedecer a Deus: é receber as recompensas que os (im)pastores dizem que os grandes ofertantes receberão (normalmente grandes riquezas) e ainda assim sob a desculpa de se estar obedecendo à vontade divina.

Não é a toa que vemos tanta pobreza ao redor de tantas catedrais ditas cristãs. O esplendor do Templo de Salomão bate de frente com a miséria ao redor. Quem já foi ao Brás sabe do que estou falando: cortiços e mais cortiços, onde bolivianos e brasileiros, na maior parte, moram e trabalham horas a fio costurando roupas e ganhando nada ou quase nada por isso. Essas mesmas roupas podem, posteriormente, ser compradas em lojas de marca nos shoppings a preços dez, vinte vezes mais caros que os pagos a quem as costurou.

0004E já que falamos em Brás, quase em frente ao Templo de Salomão tem a catedral da Assembleia de Deus Madureira (aquela onde o Eduardo Cunha é ou era membro dizimista-ofertante-especial); uma quadra acima, a sede da Plenitude do Trono de Deus; mais a baixo, a Cidade Mundial. E nesse mesmo Brás, pertinho de tudo, meses atrás tivemos o incêndio de um cortiço, com a morte de 4 pessoas. Mas, e quem se lembra disso, não é mesmo?

Lembrar-se disso seria ter que rever a “teologia” que certas igrejas ensinam. Seria ter a necessidade de ler e reler os ensinos bíblicos, para entender o que Deus realmente requer de nós em relação aos necessitados. Seria ficar num terrível impasse na hora de entregar a “melhor oferta” no púlpito, pois essa oferta poderia pagar o aluguel de uma família de conhecidos que está correndo o risco de despejo. Seria ter que abrir mão das bênçãos prometidas pelo (im)pastor com falsas vestes judaicas, que dizem respeito a fortunas em no máximo um ano, para dar sem receber nada em troca nesta vida, pois quem receber não terá como me pagar de volta.

Existe um ditado que diz que a ignorância é uma dádiva, pois os ignorantes, por não conhecer a realidade, não sofrem. Certas igrejas apostam nisso, e por isso mantém seus fiéis na ignorância. E certos fiéis aceitam a situação de bom grado, pois não querem sofrer com o sofrimento do próximo, querem ser cabeça e não cauda sem dor nem culpa nenhuma.

Se o mundo nos dessensibiliza por um lado, certas igrejas nos dessensibilizam por outro. E assim se cumpre a profecia de Cristo em relação aos nossos (últimos) dias:

Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
Mateus 24:9-13

0005Que o Espírito Santo que habita em nós nos traga os Seus frutos, para que jamais deixemos de sofrer, de lutar e de orar pelos que sofrem. E que a Igreja verdadeira seja sal e luz neste mundo em trevas.

Que o mundo se constranja tanto com a atuação da verdadeira Igreja, que se veja no direito de persegui-la. Mas que, mesmo em perseguições, essa Igreja vivencie o verdadeiro avivamento, com verdadeiros milagres e verdadeiras conversões a Cristo.

E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.
Mateus 10:7,8

Não somos contra ofertas nas igrejas, pois as igrejas honestas utilizam honestamente os recursos arrecadados em prol do suprimento de missionários e dos que sofrem. Somos contra os estelionatários da fé, contra o enriquecimento pessoal em nome do Sagrado, contra a lavagem de dinheiro gospel e afins.

Antes de desejarmos a morte dos bandidos, lembremo-nos que um bandido terrível arrependeu-se nos últimos minutos de vida. E que ele teve a honra de estar com Jesus Cristo no paraíso no mesmo dia. Assim, Cristo nos ensina que o pior entre nós pode se converter aos Seus caminhos, e que não nos compete antecipar a morte de ninguém, por pior que nos tenha feito.

Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!

3 comentários em “Esfriando o amor de muitos: técnicas midiáticas e eclesiásticas para dessensibilizar o ser humano

  1. Rosangela
    30/01/2017

    Concordo plenamente com o texto, mas NÃO CONSIGO ENTENDER incluir o site de Caio Fábio e Genizah (os quais conheço)
    na Relação Nada Perigosa. Eles têm alguma credibilidade, santidade que ainda desconheço?

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    • Estrangeira
      31/01/2017

      Relações nada perigosas são links recomendados (na verdade preciso atualizar, pois alguns sites não existem mais).

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  2. pauloespindola
    31/01/2017

    Paz, obrigado e que neste ano Deus continue lhe usando para abrir os olhos de alguns…

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